Uma boa forma – entre outras - de agregar um clube de serviço em torno de um objetivo de trabalho é um passeio pós férias. Renova os laços de união e convívio entre os seus elementos, que as férias desligaram um pouco, convocando-os para o serviço.
Marcado para o dia 24 de Setembro, com ponto de encontro no Campo da Feira, junto ao chafariz, os Companheiros e Companheiras inscritos vão chegando ao local à hora pré-definida. Chega o autocarro, cada um toma lugar com a disposição de desvendar o mistério à medida que as horas avancem no dia, já que o organizador não levanta a ponta do véu sobre o programa deste passeio por terras de Portugal. E a palavra “mistério” acicata-nos a mente e são várias as hipóteses levantadas, sem contudo surtirem qualquer efeito.
O autocarro entra na autoestrada e segue no sentido de Braga e desvia depois no sentido de Guimarães. Dão-se palpites, mas a cortina continua impenetrável.
“Iremos fazer uma paragem logística daqui a meia hora, para um café, uma ida à casa de banho…”
A meia hora cresce, mas a tal paragem não chega.
Seguimos agora em direção a Penafiel e, chegados à cidade… “ O autocarro vai deixar-nos aqui e virá buscar-nos daqui a hora e meia.”
É finalmente levantada uma pequenina ponta do véu: iremos visitar o Museu Municipal de Penafiel, instalado num bonito palacete seiscentista pertença da família Pereira do Lago, na rua do Paço, em Penafiel. Remodelado e acrescentado, o antigo e o moderno complementam-se e harmonizam-se graças ao sentido estético e técnico do arquiteto Fernando Távora. Foi uma das últimas obras assinadas por si, concluída pelo seu filho, José Bernardo Távora. E, só por curiosidade, chamo a atenção para um pequeno lanço de escadas do antigo palacete voltado para um pátio interno da parte moderna construída. Tem cinco salas com exposições permanentes e alberga três núcleos museológicos: etnografia, arqueologia, e história do concelho, onde o passado está presente nos diversos artefactos expostos, que estão em constante atualização. E não se coíbe de lembrar a “juventude” de cada um de nós - especialmente aos oriundos do ambiente rural – pois os objetos expostos fizeram mais ou menos parte do seu quotidiano: o forno a lenha, a masseira para a amassar o pão, o louceiro, o pote de ferro de três pernas, o lar onde ardia a fogueira, a charrua, a enxada, a foice, a gadanha, a foicinha, o carro de bois, o candeeiro a petróleo, a enxó do carpinteiro, a plaina, o formão, o banco do cesteiro, o fole de ferreiro, a mó que triturava o milho pela força da água… Enfim, seria massudo enumerar tudo.
O núcleo da arqueologia expõe os vários objetos encontrados nas diversas estações arqueológicas do concelho, e falam dos diferentes habitantes daquela região desde os tempos mais remotos, seus usos e costumes.
Tem uma sala multimédia com várias ferramentas audiovisuais, entre as quais um objecto, que dá pelo nome de "olhómetro" e faz lembrar os discos voadores dos filmes de ficção de antigamente, por onde pode fazer-se uma visita física ao concelho sem sair daquele espaço.
É um museu aparentemente diferente, com uma atividade pedagógica diversificada e interessante, mantendo com as famílias uma interatividade viva, com as quais faz mensalmente uma atividade conjunta: Domingo, dia 25 de Setembro, iriam fazer pudins com as famílias.
Penafiel fica para trás, mas o mistério continua. Vão surgindo as placas indicadoras de Mondim…Marco…, até que se delineia o sentido de Amarante. Daí… o Túnel do Marão, essa grande obra de viadutos compridos e altíssimos, que fura a serra do Marão por quase seis quilómetros. O maior túnel da Península Ibérica. E, para muitos Companheiros e Companheiras foi o batismo.
Percorrido este, o sentido lógico seria Vila Real. Eis-nos porém a circular pelo viaduto que passa ao lado da cidade…
Iremos para Mirandela? Bragança?
Pouco depois de atravessarmos o viaduto deixamos a autoestrada na saída de Vila Nova, voltamos em direção de Vila Real e seguimos para a Estalagem Quinta do Paço, a três quilómetros de Vila Real – um lugar bonito e acolhedor - onde degustamos um saboroso almoço e a simpatia das gentes transmontanas.
De novo no autocarro… “Daqui por meia hora teremos uma prova de vinhos.”
Cinco minutos depois, parávamos em frente ao Palácio de Mateus, um palácio em estilo barroco mandado construir pelo primeiro morgado de Mateus - António José Botelho Mourão - na primeira metade do séc. XVIII. E, em 1970, por iniciativa de D Francisco de Sousa Botelho Albuquerque, foi constituída a Fundação da Casa de Mateus com o objetivo de conservar o património e constituir um espaço ao serviço da cultura na região.
No seu interior podemos admirar os magníficos tetos trabalhados em madeira de castanho, em particular o da primeira sala, que é lindíssimo, e o rico espólio distribuído pelas várias salas, constituído por mobiliário diverso e rico, cerâmicas, quadros, livros – a Biblioteca alberga mais de 3000 livros, entre os quais a primeira edição ilustrada dos Lusíadas.
Há ainda a referenciar a capela, cuja fachada principal é também de meados do séc. XVIII e os jardins. Esses, do início do séc. XX, são também muito bonitos e bem cuidados, e estendem-se por vasto espaço, e completam este conjunto magnífico, em que a história, a beleza e a cultura se entrelaçam e nos enriquecem espiritualmente.
Mas a sua imagem de marca é, sem dúvida, o espelho de água que reflete a fachada frontal do palácio.
Depois de um chá na Pastelaria Gomes, na avenida Carvalho Araújo, em Vila Real, iniciamos a viagem de regresso. Contudo, o mistério não está ainda completamente desvendado.
Chegados a Amarante vimo-nos de novo a sair da autoestrada para irmos jantar ao "Golfe" de Amarante.
Assim se rasgou toda a cortina. Pena foi chegarmos de noite, pois é também um espaço muito bonito.
Foi bom. Houve alegria, convívio, companheirismo, cultura e foram desafiados os neurónios na busca da descoberta.
Lions Clube de Barcelos, Setembro de 2016