domingo, junho 24, 2012

Integrada na acção "UM DIA PELA VIDA" da Liga Portuguesa contra o cancro, a equipa "Lions Acredita" do Lions Clube de Barcelos, no passado Domingo, dia 17 de Junho, organizou e participou num passeio cultural por Barcelos histórico,  orientado pelo Dr. Cláudio Brochado. 
O templo do Senhor Bom Jesus da Cruz foi o ponto de partida para esse roteiro.
A construção deste magnífico exemplo do barroco português, na época considerado o melhor de Portugal e até do mundo, deve-se a uma lenda, que fala do aparecimento de uma cruz de terra negra no solo barrento do Campo da Feira em 1504. Local desde logo votado à devoção do povo, aí se construíu, no ano seguinte, uma pequena capela. Mas a devoção cresceu, os milagres aconteceram e as ofertas sucederam-se. Entre 1698 e 1710, construíu-se então o templo actual, sob planta do arquiteto João Antunes de Lisboa. A talha é da autoria de Miguel Coelho
Daí prosseguimos até à Torre  da Porta Nova, ou Torre do Cima de Vila, uma das três portas que davam acesso ao interior da muralha ou cerca de vila mandada edificar por D. Afonso, filho bastardo de D. João I, oitavo conde de Barcelos, que também mandou edificar o Paço dos Condes de Barcelos.
Nesta torre de quatro pisos funcionou a cadeia e, ultimamente, foi Centro de Artesanato e Turismo.
Daí descemos à Praceta Mestre Luís Costa, antigo Largo do Tanque, onde se encontra um bonito chafariz em cantaria de tanque redondo.
Por um pedaço de muralha daí visionada foi-nos permitido intuir a trajetória da mesma, que ... 
... começava e terminava na ponte medieval, onde existia a chamada Torre da Porta da Ponte, que dava passagem à estrada e era ligada ao Paço dos Condes por dois pisos.
A ponte que fora mandada edificar anteriormente por D. Pedro Afonso, quarto Conde de  Barcelos - homem culto, escritor,  filho bastardo de D. Dinis e, como o seu pai,  trovador -, em virtude de Barcelos ser um local importante de passagem no trajecto para Ponte de Lima e para outros locais, nomeadamente Santiago de Compostela. Depois foi reformada pelo oitavo conde, D. Afonso.  
Seguimos depois para o Paço dos Condes de Barcelos, mandado construir pelo mesmo D. Afonso, oitavo conde de Barcelos, casado com D. Brites, filha de  D. Nuno Álvares Pereira.
Homem viajado, culto e de grande visão política (dada a sua longevidade, foi conselheiro de quatro reis...), depois de uma viagem a Inglaterra, mandou edificar este paço em estilo gótico, dotado de dois pisos, salas amplas, com lareira em cada compartimento, sendo na época o edifício mais rico de Barcelos. 
Junto ao Cruzeiro foi-nos recordada a "lenda do galo", que conta um "facto" passado com dois peregrinos galegos (pai e filho), seguindo em peregrinação para Santiago.
Também daqui nos foi dada uma panorâmica do que ainda existe da cidade medieval, nomeadamente o Hospital do Espírito Santo (o corpo amarelo que se avista por de  trás do cruzeiro), agora pertencente  ao edifício Paços do Concelho, bem como a razão para a demolição do que já não existe.
Neste mesmo espaço, sem dúvida o centro nobre da cidade de Barcelos, fica também a Igreja Matriz ou Colegiada de Barcelos, de estilo românico em transição para o gótico. A sua construção data do séc. XIII e, mais tarde, foi transformada em Colegiada. Sofreu algumas alterações e acrescentos através dos séculos e muitos dos seus melhoramentos devem-se também a esse oitavo conde, que foi o grande impulsionador do engrandecimento de Barcelos.
Em frente ao portal foi-nos dada a interpretação de algumas marcas existentes na bordadura do mesmo, as quais é vulgar olharmos, mas não vermos.
Eis-nos no centro medieval de Barcelos - o Largo do Apoio -, o primeiro largo de Barcelos, local onde se cruzavam as estradas do Porto para Ponte de Lima e onde se fazia o mercado de frutas, legumes, carne e peixe. O chafariz do centro doi desenhado por João Lopes. Em volta ficam casas  no
bres, meadamente a de D. Nuno Álvares Pereira,  sétimo conde de Barcelos por nomeação (ou deverei dizer doação?) de D. João I, o Mestre de Avis. E também a Casa dos Carmonas e a Casa do Alferes  de Barcelos.
Partem daqui ruas ainda desse tempo, que tinham o nome das corporações de artífices, como era apanágio na Idade Média.
Seguimos depois pela rua S. Francisco, antiga rua dos Mercadores, até à capela de S. Francisco (particular), aberta para nós por especial simpatia dos seus proprietários.
Esta capela é dedicada a S. Cristóvão, ou "aquele que carrega Cristo", graças à lenda que lhe está adstrita. Mas, segundo uma investigação que a Igreja levou a cabo, parece que não existiu nenhum S. Cristóvão e a sua vida baseia-se em lendas.
A capela é muito bonita e merece restauração.

Aqui, S. Pedro travou-nos o passo mandando uma chuvinha arreliadora, que não nos deixou prosseguir o passeio. Ficou por concluir o roteiro inicialmente traçado. Mas temos esperança que o Dr. Cláudio Brochado consiga dispensar-nos brevemente mais um pouco do seu precioso tempo, para o completarmos. A ele um profundo bem haja do Lions Clube de Barcelos pelo que nos mostrou e pelo que nos ensinou a ver: coisas que olhávamos, mas não víamos. Marcas que nos ensinou a interpretar.


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